domingo, 7 de junho de 2009

Aspas


Marcelo Silva é jornalista, publicitário e cineasta. Iniciou no meio audiovisual através da Publicidade. Produziu cerca de 40 vídeos institucionais de longa duração.
No seu primeiro documentário autoral “A Romaria dos Excluídos”, ganhou o prêmio Excelência em Imprensa, como Melhor Documentário da Federação das Indústrias em 2002. Em 2005 produziu “Os Caretas de Lizarda”, documentário em formato de grande reportagem que ganhou a seleção de Melhor Vídeo Tocantinense para ser exibido no Ano do Brasil na França, venceu o Festival Cine Ao Ar, em Porto Nacional -TO e prêmio de Melhor Videoreportagem no Cineamazônia, Porto Velho em 2006.
Com “Raimunda, a Quebradeira”, conquistou os prêmios de Melhor Média - Metragem nos Festivais de Cinema Ambiental de Cuiabá e do Cinema Brasileiro, de Belém. Menção Honrosa na 34ª. Jornada Internacional de Cinema da Bahia. Segundo lugar no Prêmio Chico Mendes de Ambiente, categoria Cultura, se seleção oficial do Latin American Film Festival de Londres, em 2007.
Nesta segunda entrevista da seção Aspas Marcelo Silva conta um pouco de suas experiências, da realidade da produção cinematográfica tocantinense, e claro da Mostra Miragem, que neste vai homenageá-lo.
Em “O Caminho das Onças” você fez a assistência de direção, pesquisa e roteiro. Posteriormente dirigiu “A Romaria dos Excluídos” e “Os Caretas de Lizarda”. Neste período quais foram as evoluções na construção destes documentários, características sonoras e imagéticas, cenário audiovisual regional?
Marcelo Silva: O Caminho das Onças teve uma estrutura mais profissional, com câmera de cinema 16mm e uma grande equipe, mas nos outros dois foi um processo bem artesanal. Eram apenas eu e o cinegrafista Hermes Macedo, então tínhamos que nos valer da realidade dos sons e imagens, colecionando material para compor o filme. Não tinha um pré-roteiro estabelecido. Era um registro atento de tudo que acontecia na Romaria do Bonfim, e na Festa dos Caretas. Filmamos vários anos e só decidimos montar quando achamos que tínhamos material suficiente que todos os aspectos das festas estavam cercados.
Em 2007, a história da comunidade de “Raimunda, A Quebradeira” foi exibida para todo o Brasil através da Tv Cultura. Dois anos se passaram. Quais mudanças trouxeram o pós-Raimunda para a produção audiovisual tocantinense?
Marcelo Silva: Acho que o sucesso do Raimunda despertou muita gente a produzir documentários, principalmente jovens. Passou-se a acreditar mais que um filme tocantinense pudesse romper fronteiras, ganhar prêmios, ser selecionado em festivais internacionais. Isso é possível sim. Nosso cinema passou a ser mais respeitado, perdemos um pouco do complexo de vira-latas. Ganhamos um filme a mais no DOCTV deste ano, tem mais espaços para exibição e mais gente produzindo. Acho que foi um marco. Ao menos pra mim, que ainda estou vivendo o filme intensamente, com muitos desdobramentos.
A vida simples da Dona Raimunda é o epicentro de toda a narrativa histórica sobre a ocupação da região do Bico do Papagaio, os direitos trabalhistas das mulheres extrativistas, o meio ambiente, os conflitos agrários... Como se deu o processo de extrair da simplicidade das outras quebradeiras essas temáticas delicadas ao meio em que vivem?
Marcelo Silva: Inicialmente a idéia era fazer um filme bonito, plástico sobre a biografia da dona Raimunda, meramente. Mas ao constatarmos que ainda existiam milhares de mulheres que ainda viviam nas matas quebrando coco, percebemos que o filme poderia ser um instrumento para começar a chamar a atenção para o problema. Foi engraçado porque era difícil explicar para estas mulheres que o Governo tinha R$ 100 mil reais pra gente fazer o filme, mas não tinha R$ 5 mil pra consertar o sistema de água de um povoado. Então nos sentimos na obrigação de incluir mais fortemente a realidade, entrecortando com a história de dona Raimunda. E deu certo.. muita coisa mudou por lá depois do filme. Muita mesmo... Dá até outro filme.
Quais precauções foram empregadas para que o documentário não recaísse na tradicional vídeo biografia?
Marcelo: Não priorizei a biografia. Tem lá alguns trechos históricos da vida da dona Raimunda, mas apenas para contextualizar. Priorizamos o pensamento dela. A filosofia de vida. O jeito de encarar as coisas e se relacionar com as comunidades, os governos, a burocracia. Ao passo em que acompanhávamos um dia na vida das quebradeiras comum, então acho que isso deu um dinamismo ao filme, e passou melhor quem é a dona Raimunda. Do contrário teríamos que ficar falando dos filhos, dos maridos, da casa, dos estudos. E eu não queria isso. Queria que as pessoas conhecessem as suas idéias.
Em agosto do ano passado a Assembléia Legislativa aprovou o projeto de lei 231/2007, a Lei do Babaçu Livre. Qual o contato mantém com a comunidade atualmente?
Marcelo: Não passo dois meses sem visitar os povoados que filmei e a dona Raimunda. A equipe do filme assumiu alguns compromissos com as comunidades e estamos conseguindo cumprir. Estamos construindo lá, com parcerias do governo e entidades internacionais, duas padarias comunitárias e duas fábricas comunitárias de sabão. Ajudamos no projeto habitacional e as 800 casas já foram construídas pelos governos federal e estadual a pedido de dona Raimunda. Sempre levamos doações e ajudamos a articular cursos e benefícios sociais. É muita coisa. Nem dá pra falar tudo. Quanto à lei do Babaçu Livre, o filme influenciou bastante. A música do Genésio (coco livre s/a). Agora o desafio é colocar a lei em prática e aprovar uma versão federal. Mas tudo isso está caminhando.
Leônidas Duarte é tido como o primeiro ecologista do Tocantins. Assim como a Dona Raimunda, ambos são idealistas. A trajetória do ambientalista seria referência para um novo doc?
Marcelo: O promotor Leônidas Duarte protegeu as florestas do então norte goiano, enfrentando grandes empresas madeireiras internacionais. Acho uma história interessante. Precisa de muita pesquisa, está caminhando lentamente, ainda não virou projeto no papel. Só na cabeça.
A construção do doc contou com o apoio de profissionais de outros estados e países. Há a escassez deste tipo de mão -de- obra no Estado?
Marcelo: Sim. Isso é inegável. Mas quando trago um profissional de fora, a intenção é transferência de conhecimento. Trouxe uma diretora de fotografia de Cuba e um fotógrafo da França, porque sabia que eles iam influenciar a equipe. Todos ganharam igual e o resultado foi uma total interação. Como não temos cursos nesta área aqui, então a solução é esta. Toda vez que tem um dinheirinho a mais para produção, procuramos trazer alguém de fora para pegar um pouco de conhecimento.
A Mostra Miragem chega este ano a IV edição, você será a personalidade homenageada este ano. Qual panorama faz deste evento em âmbito nacional?
Marcelo Silva: Eu acho que é o festival mais “rock and Roll” do Brasil. Tem um astral legal. Tem personalidade e tem tudo para se firmar porque tem uma proposta. Além do que é muito organizado, o Cássio e toda a equipe são dedicados. E será, sem dúvida, o maior festival de cinema do Tocantins. Pena que as autoridades locais ainda não se apereberam disso. Mas estão todos de parabéns. Quanto ao fato de ser o homenageado, inicialmente, me senti em “fim de carreira”, mas depois fiquei emocionado.

Novas datas da Mostra

Dias 23, 24 e 25 de julho. Estas são as novas datas da realização da Mostra Miragem. Afim de não coincidir com eventos tradicionais da cidade de Miracema, como a Exposição Agropecuária e o Miracaxi - tradicional carnaval fora de época, a Inusitada Produções comunica a alteração de datas.
Em sua IV edição a Mostra Miragem, há menos de um mês para o fim do período de inscrições já bate recordes em número de produções cinematográficas inscritas.